quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A Magia Do Desabafo


Verdade seja dita, poucas são as pessoas que recorrem a ele quando mais precisam.

Desabafar é deixar a alma nua e crua para olhos atentos á radiação do seu verdadeiro "eu".

É a forma mais limpa de se projetar diante de tudo e todos.
É se entregar sem medo do acaso.

Quando alguém desabafa, é como se 'toneladas' de preocupações, receios, medos, pavores e tantos outros "pesares", simplesmente fizessem uma "dieta instantânea".

Quando desabafamos, nem sempre sentimos como se os problemas tivessem chegado ao fim, mas com toda a certeza chegamos a sentir a alma mais leve, mais límpida, mais amena. É como se por uma fração de segundos, o mundo parasse e nos possibilitasse a chance de respirar em paz.

Ter em quem confiar é um dos melhores presentes de Deus.
Ter um amigo que lhe conhece mais do que qualquer outra pessoa é uma dádiva desmedida.

Algumas pessoas nos conhecem tanto que, antes mesmo que uma palavra seja dita, ela já se aproxima e oferece seu ombro. E o melhor de tudo, o faz sem cobrar nada.

O verdadeiro amigo reconhece no seu olhar, o que a alma teima em esconder. Mas ao invés de pressionar uma possível quebra de retranca, simplesmente dá a oportunidade de reconhecer a mágica que os une. E que ali, diante dos olhos, está alguém que nada espera, além de estar presente, mesmo na ausência.

Desabafando, deixamos nossas armas no chão, junto com todas as carrancas que carregamos por acreditar que guardando os sentimentos e sensações, estaríamos protegidos do "mundo exterior".

Desabafo é uma forma de exteriorizar nossos monstros. Aqueles que nós mesmos criamos.
Ás vezes guardamos o que sentimos, porque não confiamos em quem esteja ao redor.
Ás vezes, porque nos conhecemos o suficiente para perceber que o exteriorizando, estaríamos acentuando a chance de machucar alguém.
E ás vezes, também, guardamos tudo o que nos faz mal, porque temos medo de explorar o mundo lá fora. Então nos fechamos em nossa redoma e acreditamos que assim estaremos fora de perigo.

Feliz daquele que sabe a importancia de um desabafo e encontra quem possa atender suas necessidades espirituais (pricipalmente), e consiga êxito em sua maioria.

Aprendi...


"Viver e não ter a vergonha de ser feliz."

Frase curta, simples e de intenso significado.

Viver é uma arte, assim como amar.
Um dia a gente acorda radiando energia positiva, saudando o sol, o céu, os pássaros e até mesmo uma minúscula formiga. Noutro, já levantamos da cama com a sensação de que seria melhor permanecer nela.

Verdade seja dita, cada pessoa desenvolve o seu "método infalível" para lidar com suas diferenças, mas nem sempre procura estudar uma forma de abordar com eficiência, a forma 'diferente', que outras pessoas levam consigo.

"Cada cabeça, um mundo". Fato!

É tão simples apontar o dedo para outrem, e não se dar conta de que outros 4 dedos apontam pra si, ao mesmo tempo.

É preciso "ver" além da visão. É preciso sentir mais do que a emoção. É preciso exercitar, entre outros, a tal da tolerância. E fazer de conta que sempre teremos a chance de recomeçar, reformular, mudar. E para melhor.

Aprendi que nem sempre o certo é o melhor a se fazer; ás vezes é preciso cometer uns erros que nos farão crescer muito mais.

Aprendi que não adianta somente desejar o bem para o próximo, se eu não fizer o que for bom, pra mim também; afinal, eu preciso estar em harmonia, para que eu tenha a chance de somar e saber subtrair na vida dos outros.

Aprendi que é um risco muito grande, dizer que "isso não acontecerá comigo; só com os outros". Pois, seguindo esta linha de pensamento, se todas as pessoas falarem que isso ou aquilo só acontece com o outro, então eu sou o "outro" para outra pessoa.

Aprendi a dar mais atenção ao que dizem os mais velhos. Eles já viveram muito mais do que eu e muito provavelmente já tenham passado por tudo o que passei e tenham de fato, o que dizer, ensinar.

Aprendi que dizer: "Eu Te Amo" não é prova de amor. E que responder: "Eu também", está longe de ser uma demonstração de reciprocidade.

Aprendi que ás vezes perdemos muito tempo idealizando o que falar, o que fazer e como fazer. E quando nos damos conta do tempo que se passou, percebemos que junto com o tempo, a oportunidade também seguiu seu rumo.

"Tudo depende da janela através da qual observamos os fatos.
Antes de criticar, verifique se você fez alguma coisa para contribuir, verifique seus próprios defeitos e limitações.
Devemos olhar, antes de tudo, para nossa própria casa, para dentro de nós mesmos.
Só assim poderemos ter real noção do real valor de nossos amigos."

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

E Que Dure Para Sempre...

Dizem que a primeira vez é a que fica marcada pra sempre. Tem quem diga que o amor é eterno, e outros que juram que o amor é eterno enquanto dura. Independente de quem esteja com a razão (se é que existe uma), o que prevalece é o desejo de que seja insubstituívelmente especial.

Quem pensa em namorar, pinta o quarto de azul... \o/

Inicio de relacionamento sempre (ou em sua maioria) é repleto de momentos incríveis, cenas inesquecíveis e pessoas marcantes.
A vida se tranforma num longa-metragem que parece não ter fim e sempre com a expectativa de quebra de recordes.

Amar é uma arte para poucos.

Saber doar-se em prol de um sentimento que abala todas as categorias humanas, sem diferenciação de tons de pele, crenças, alturas, formas...

"Amar é quando não dá mais pra disfarçar..." ^^

Então...

Quando alguém se apaixona, geralmente se torna mais bobo(a), mais patéticamente sonhador(a).
É como se o desejo de querer bem e ser bem quisto, fosse capaz de acentuar caracteristicas pessoais.
Quando a gente ama, pouco importa se vai chover ou fazer sol; se vai ter calmaria ou festa na avenida. O importante é não deixar morrer, aquela força estranha que nos motiva a ser o melhor possivel, para e com o(a) a passoa amada.

Obviamente nem tudo são flores. E nesta hora o tal do amor recebe a sua primeira provação de credibilidade.
Amar não é dizer "Eu Te Amo", e responder com um: "Eu Também".
Amar é se entregar integralmente, sem esperar nada em troca; é estar disponivel mesmo com as diferenças; é dizer tudo com o silêncio e calar um grito com um simples abraço.
Amar é dizer o que é necessário, mesmo sem saber se é a hora certa.
Amar é perdoar a falha alheia, tendo em mente que todos estão sujeitos a cometê-las e que merecem uma segunda chance.

Enfim...

O amor é aquela janela entre-aberta, quando todas as portas se fecham diante dos olhos.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Quantas Vezes...



Quando pequeno, eu tinha um costume diário de sentar no muro e olhar o céu, enquanto as estrelas apareciam, uma a uma.
Era fascinante acompanhar o sol dando lugar á lua, enquanto os pontos luminosos se faziam notar por toda a extensão do tapete negro.

Ao encontrar novos pontos, eu sentia como se cada uma delas fosse uma resposta de Deus para cada um dos meus anseios. E tomando este pensamento, como lei, eu fazia um pedido por noite, acreditando que o brilho incessante daqueles pontinhos ao longe, eram uma resposta afirmativa para a minha crença.

Certa noite eu cheguei naquele velho amigo de confidências (muro) e percebi que tinha chegado na hora exata; pois a primeira estrela havia acabado de surgir. Então, por instantes eu fechei meus olhos e fiz o pedido do dia. Pedi a Deus para que um dia ele me colocasse no caminho de uma Mulher que sem esforço maior, conseguisse me dirigir a ele (Deus) e pedir proteção e bençãos pra ela, pois eu a queria como a minha futura esposa e mãe da minha tão sonhada filha.

O tempo passou, eu fui deixando de lado o meu velho hábito e muita coisa aconteceu.
Conheci tantas pessoas quantas vi partindo, também.
Me apaixonei. Pensei que havia me apaixonado e me dei conta de que não passava de tesão. Me iludí e deixei a desejar a quem muito queria e não podia, comigo. Assim como também chegou a acontencer de ficar muito tempo sem que eu me sentisse atraído por ninguém; o que mais tarde me causou um enorme sofrimento, por acreditar que eu havia perdido a capacidade de sentir prazer em ter alguém pra chamar de amor.

Quantas vezes deixei lágrimas cairem por não ter a quem abraçar com uma intenção maior...
Quantas vezes fui dormir me sentindo sozinho, pois tudo o que eu queria era ter com quem dormir abraçado...
Quantas vezes eu fechei os olhos idealizando um rosto qualquer, tentando me apegar a vagas lembranças que nunca existiram.

Quantas vezes eu me vi rodeado por casais que transmitiam no olhar, toda a sua felicidade por estar juntos, completos, entregues ao desejo ardente de serem um para o outro até que o fim dos tempo se fizesse valer, e sentia uma certa inveja; já que eu estava diante de tudo o que eu queria, mas que não me pertencia.

Por muito tempo eu fiquei só. Por muito tempo eu me senti só.

Todo inicio de ano era como um misto de esperança e angustia.
Por nunca ter conseguido passar o dia dos namorados, namorando, eu já sabia que naquele dia eu sentiria um vazio ainda maior e um aperto inexplicável, por não ter a quem presentear, nem que fosse com uma flor roubada do quintal do vizinho.
E por ironia (ou não) do destino, quando finalmente eu consegui entrar no "bendito" mes, namorando, eis que ela termina comigo. E o pior? Ela fez isso no dia anterior ao tão esperado "dia dos namorados".

Cara de sorte. :)

Mas aquele danado do tempo não deixava barato. Continuava passando e não tolerava atrasos.
Quando dei por mim, já estava no terceiro mês, sozinho, de novo.
E quantas vezes eu desejei ter de volta aquele brilho no olhar?
Quantas vezes eu passei a noite em claro, porque ela não saía do meu pensamento?
Quantas vezes eu sai correndo (literalmente falando) pela rua, na esperança de distrair o pensamento e leva-lo para outra direção que não fosse a daquele sorriso que me conquistou na hora mais acertada do mundo e me vi na obrigação de parar de correr porque eu estava pensando mais nela do que em mim, ali, correndo, suando, me desgastando em prol de um possivel 'alívio' que não me encontrou?

MUITAS!

Mas quem disse que o mundo estaria me esperando ali na esquina?
Quem disse que o tempo daria uma trégua e vendo o meu sofrimento, voltaria um pouco, para que eu pudesse sentir novamente, toda aquela alegria do inicio de tudo?

Lá estava eu, sentado na calçada, vendo capítulos da minha vida levando consigo cada um dos meus sonhos mais bobos.

Eu não tinha nome, não tinha endereço, não tinha idéia e muito menos a quem recorrer.
Era a constante presença da incerteza e eu, caminhando juntos numa estrada sem curvas e beiras.

Então eu me dei conta de quantas vezes eu havia pedido a Deus, uma resposta, uma orientação, e por não encontrá-la da maneira que 'eu esperava' que fosse, cheguei a abrir a boca e dizer que eu não tinha ninguém por mim. Dae, creio que alguém já estivesse cansado das minhas lamentações e finalmente me abriu os olhos. Pelo menos mudaram a minha forma de encarar o mundo, a vida.

Foi então que num belo dia, eu peguei um filme e fui assisti-lo. O filme era como qualquer outro, até que uma cena em especial, me chamou a atenção.
Nela, uma mulher se mostrava cansada de tanto fazer orações e não encontrar um alívio para sua alma. Então, Deus (na imagem de um Homem desconhecido) lhes apareceu e perguntou se ela estava com problemas. Ela, por sua vez, apesar de nunca tê-lo visto, começou a abrir o 'livro' da sua vida e a contar o que estava acontecendo e lhe deixando daquele jeito.
A Mulher chegou a dizer que Deus havia esquecido uma de suas filhas e teria abandonado ela com o seu sofrimento. Foi então que Deus (ainda na imagem de um desconhecido) lhes disse umas palavras que ficaram gravadas na minha mente e se tornaram mais um separador de águas, pra mim.
Ele (Deus) disse para ela, algo mais ou menos assim: "- Quando alguém rezar pedindo paciência, acha que Deus dará paciência, ou Deus dará a oportunidade de ser paciente?
Se pedimos coragem, Deus nos dará coragem ou oportunidades de sermos corajosos?
Se alguém pede que a família seja mais unida, Deus unirá a família com alegria e amor, ou dará a oportunidade de se amarem?".

Depois que vi esta cena, passei a acreditar que eu estava enganado, toda vez que me sentia só; pois apesar de não poder ver como eu esperava e ouvir como gostaria, Deus estava sempre por perto e olhando por e para mim.

Hoje eu ainda me julgo muito inexperiente quanto á vida, e sei que ainda tenho muita coisa para questionar. Mas também eu me dei conta de quantas vezes eu deixei passar a chance de me sentir feliz, por esperar no futuro, aquilo que estava diante dos meus olhos, há tempos.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Que Se Chama Amor!


 

Toda esta história de transformação da minha vida teve inicio muito antes deste pequeno ser, vir ao mundo.

Desde pequeno que eu sentia o desejo de ter um cachorro. Um cachorro pra chamar de meu.

Passaram-se muitos anos e nada de conseguir realizar esse sonho.

Então... 

Num belo dia, ao sair de casa, me deparei com uma cadela branca com manchas marrons. Estava deitada debaixo de um carro, aparentemente maltratada pelo tempo, falta de alimento e sorte.

Ao me aproximar, fui recebido com um par de olhos castanhos, que me fitaram com ar de curiosidade, espanto e pedido de socorro.

Não resistindo ao desejo de fazer algo, por menor que fosse, e que pudesse tirá-la daquela situação, me prontifiquei a conquistar sua confiança.

Quando ela se deu conta de que eu não queria seu mal, logo passou a atender ao meu chamado e a estabelecer uma relação de amizade.

Apesar dela ser branca, eu a chamava de Nega.

O tempo foi passando, ela começou a frequentar minha casa e, quando menos esperávamos, percebi que ela estava esperando filhotes.

Até então eu não fazia idéia de quantos, mas sabia que não seriam poucos, dado o tamanho dela.

A barriga foi crescendo, crescendo e chegou o dia no qual ela nem aguentava sair do chão, direito.

Então, no dia 2 de janeiro de 2009, ela trouxe ao mundo os 9 novos membros da minha familia. Todos branquinhos com manchas marrons.

Neste dia, pela manhã, eu estava diante dela (nega, mãe do negão) e presenciei ao nascimento de todos os filhotes (mais ou menos umas 7 fêmeas e 2 machos). E dentre eles, estava um pequenino aparentemente normal. Porém o tempo se encarregou de mostrar que aquele era um 'menino especial'. E muito!

Para cada um dos filhotes que eu estava conhecendo, dei-lhes um nome (Pintada, Miúda, Bela...) E um deles, em especial, todo branquinho e com a ponta do nariz, preta, batizei de 'negão'.

Com o passar dos dias eu notei que aquele cachorrinho, em especial, tinha algo de diferente. Algo que não soava bem. E então eu me dei conta de que ele não andava como todos os outros.

Por não acreditar que ele não sobreviveria por muito tempo e ainda desprovido de ligações afetivas, com ele, deixei que o tempo continuasse seu fluxo normal.

Cada dia era uma diversão para mim e o tormendo para o resto da casa, que enlouquecia com tantos latidos, ao mesmo tempo.

Sempre que eu ia ao encontro deles, bastava dizer: 'Criaaaanças', e logo se podia ouvir aqueles passos ligeiros, em minha direção.

Só Negão que chegava tarde, porque pelo fato de não poder andar, teria que se arrastar pelo chão; o que lhe rendeu tantos ferimentos, ao longo da vida.

Tempos mais tarde (cerca de 4 meses) vi que negão não estava bem. Ele havia adoecido e parecia estar lutando pela vida. Então, munido do mais puro desespero (agora sim eu estava ligado a ele) o levei ás pressas até uma veterinária que o examinou, deu ordem de internamento e indicou alguns remédios e exames.

Mais tarde ficou evidenciado que ele estava com uma virose forte, seguida de anemia.

Comprei os remédios receitados, continuei o tratamento e depois de um tempo, ele voltou a ser o bom e velho Negão, de antes.

Cada dia que eu vivia com aquele cachorro, era como um aprendizado novo, para o curriculum da vida.

Apesar de não conseguir andar, ele estava comigo onde quer que eu fosse.

Ás vezes eu o enrolava numa toalha e o levava pra conhecer a rua, o mundo lá fora. Ás vezes não.

Ele cresceu até meados dos 5 meses, ao lado de algumas das irmãs (umas, morreram, outras, foram doadas). Mas a partir do 6° mês ele já era o rei da casa. Não tinha irmão algum com quem dividir o carinho, a atenção e afins.

Foi aí que nossa história começou a ficar mais intensa, mais viva e indescritível.

Junto com o problema de má formação, ele adquiriu também, um problema na bexiga; ele não conseguia exercer controle sobre ela. Logo, a todo o tempo ele estava urinando. E por não ter como sair, sozinho, logo aprendeu a chamar atenção para que alguém viesse ao seu socorro. E esta foi a marca registrada dele.

Sempre que queria atenção, sabia muito bem que bastava 'chorar'. E ele chorava mesmo.

Chorava por comida, por água, por carinho, por companhia e até mesmo por nada. A 'diversão' dele e que ele tanto adorava era chorar.

Gostava tanto que por conta dos choros, nos fez perder inúmeras noites de sono.

Haviam dias nos quais eu colocava ele pra dormir, e ficava na sala, vendo tv. Enquanto eu estivesse sentado, no campo de visão dele, quietinho ele permanecia. Porém, bastava eu dar sinais de que á estava de saida e ele levantava as orelhas ponteagudas e iniciava o choro.

Ás vezes eu brigava com ele, por isso. Mas noutras oportunidades eu sabia que ele não tinha culpa. Ele precisava de atenção especial e eu era a pessoa que ele mais esperava, a cada chamado.

Quando eu saia para comprar o shampoo dele, sempre procurava algo á mais, para diverti-lo. E por duas vezes eu comprei osso de plástico (creio eu), para que ele pudesse ter com o que passar o tempo, com um pouco menos de tédio. Mas ele brincava tanto com eles que, em pouco tempo, nada restava. Logo desisti de presenteá-lo com tal.

Negão era o tipo de cachorro que apesar das limitações, me deixava morrendo de orgulho.

Sempre que eu estava de saida, ele me olhava, transmitia o que queria dizer e ficava quietinho no cantinho dele. E ao perceber minha volta, logo fazia barulho. Latia tão forte que me fazia chegar perto dele, segurá-lo pelas orelhas e dizer: Você já está um rapazinho. Tá latindo feito 'gente grande'.

Eu era tão cúmplice dele, que por diversas vezes me pegava conversando com ele. Falava sobre tudo e qualquer coisa, como se ele pudesse compreender minhas palavras. E de certa forma eu sabia que ele entendia. Ele mais falava com o olhar, do que muitas pessoas, com a boca.

Ás vezes eu chegava da rua, abraçava ele e falava: Ô menino liiindo. Meu cachorrão. Coisa linda do vô.

A hora do banho era sempre uma diversão (ou não). Negão era tão esperto que, ao notar que uma palavra era repetida sempre na hora do banho, logo mostrava sua irritação diante dela. 

Bastava chegar a hora do banho, que eu olhava pra ele e falava: 'Negão, bora?!'. E ele, instantaneamente se irritava e latia pra mim, como se quisesse deixar clara a sua revolta. Mas isso logo se transformava na maior paz, quando ele já estava em contato com a água. Na água ele era um bobão.

Ele ficava tão quieto, tão em paz, com aquele olhar fixo e a cabeça recostada no meu peito.

Certa vez eu o peguei para brincar, e o levantei na altura da minha cabeça. Achei aquela cena tão bacana, que só para me estragar a festa, ele urinou no meu peito e fez cocô no meu pé (ao mesmo tempo).

Isso com toda a certeza seria o suficiente (em outro dia) para me tirar do sério e lhe render uma bela

bronca. Mas não. Naquele momento eu só fiz rir. Rir de mim, por estar todo sujo e dele, por ter-me feito reagir de forma contrária ao habitual.

Negão sempre me deixava intrigado com aquele olhar. Ele sabia me silenciar com a forma como me fitava. E sempre conseguia.

Por vezes eu peguei a câmera, posicionei ela e aproveitei da quietude dele, para registrar-nos, nos mais diversos 'momentos de familia'.

Ele era tão bobo que até fazia pose. Ora abaixava a cabeça, ora fechava os olhos. Mas sempre com uma pose, como se entendesse o que eu queria.

Cansei de acordar no meio da noite para limpar ele. Por diversas vezes levantei e ao chegar perto, notava a mudança de comportamento. Ele sempre queria atenção e carinho. Sabia como dobrar a todos, com aquela carinha de pidão e aquele olhar carente.

Por vezes ele me tirou do sério e me fez perder a paciência. E nessas horas, eu sempre disse algo que mais tarde me faria arrepender. Mas quando eu dava por mim, já tinha saido.

Há quem pense que eles não entendam o que possamos dizer. Mas eu sinto que Negão era sim, capaz de sentir o meu estado de espirito e reagir a ele.

O tempo passou. Ele cresceu. As lições de vida me foram empregadas e aos poucos eu fui me dando conta da lição do dia. E ele me empregava muitas.

Uma delas e a principal (para mim) foi a ser mais paciente. Negão sempre estava a testar-me. Ás vezes eu passava, ás vezes, não. Mas cada dia era um teste pra mim.

Ninguém conseguia entender a ligação que eu tinha com ele. Assim como não entendem, ainda hoje.

Negão e eu, erámos como almas especiais que se reencontraram nesta vida. E logo perceberam que uma precisava da outra, para que a evolução se fizesse valer.

Mas ele tinha o dom de me irritar. E ultimamente eu já estava sem paciência para o choro excessivo e as birras dele.

Isto, por diversas vezes, passou a ser motivo de discórdia em casa; pois eu já não aguentava mais escutar aquele som irritante, que nada mais era do que um pedido de ajuda, de alguém que não podia agir sozinho.

Dae o tempo continuou passando e finalmente chegamos ao fim do ano. Negão estava prestes a fazer seu primeiro aniversário de vida.

Vieram os festejos de fim de ano e estávamos nos aproximando do dia 2.

E quando finalmente o dia chegou, eis que ele passou a ser ainda mais paparicado do que antes. Afinal, era o primeiro aniversário e ele era o xodó da familia.

Mas eu já não era o mesmo. Não com ele. Eu já estava impaciente demais e qualquer coisa me tirava do eixo.

Como já havia dito, Negão podia até não saber exatamente o que eu falava, mas era capaz de sentir o meu estado de espirito.

Então, a partir dai, ele adoeceu novamente. Desta vez ele foi pego por uma infecção urinária.

Infecção, essa, que por dias o fez urinar sangue e aumentar ainda mais a sua dependencia quanto átenção de todos ao redor.

Se antes ele já chorava atoa, agora era ainda pior.

A todo o tempo alguém precisava limpar ele, já que antes era urina e agora, além dela, havia o sangue.

Negão entristeceu e dia após dia se mostrava mais abatido.

Ele já não era aquele cachorro do olhar radiante, do latido potente e das expressões decifráveis (para mim). Não tinha mais aquela energia viva e nem aquele encanto que tanto mexia comigo, desde seu nascimento.

No dia 17 de janeiro de 2010, me pediram para que eu o oferecesse um chá, afim de evitar a onda de vômitos que o havia acometido; já que eu era o único que tinha coragem de colocar os dedos entre aqueles dentes afiados.

Então, quando o fiz, senti aquela pegada forte, fora do comum. Ele me mordeu tão fortemente que até me assustei com a reação dele. E instantaneamente fui dominado por uma fúria sem tamanho, que me fez dar o maior esporro que eu já havia direcionado a ele. E na mesma hora eu vi no olhar dele, a mais profunda decepção da sua vida (e uma das minhas, também).

Ele não merecia aquele tratamento. Não era digno de tal atitude. E eu falei. Outra vez.

Passei o resto do dia sem falar com ele. E ainda por cima, sentindo na pele a revolta dos outros, ante a minha atitude.

Naquele dia eu fui para a cama sentindo um pêso na consciencia. Um fardo latente.

E não consegui dormir direito. A todo o momento eu acordava durante a madrugada e procurava uma forma de desviar o pensamento. Inutilmente.

A cada piscar dos olhos, eu revia a cena do dia anterior. E aquilo me atormentava de tal forma que nada me fazia 'apagar'.

Finalmente o dia amanheceu, eu saí do quarto e dei de cara com ele, deitado, cabisbaixo a me olhar.

Por 1 ou 2 minutos eu parei e olhei no fundo daqueles olhos expressivos, tentando juntar forças e pedir desculpas. Mas não consegui. Estranhamente o olhar dele estava obscuro. Distante. Vazio. E eu disse para mim mesmo que o faria mais tarde.

Dae eu fiz o que tinha que fazer e sai. E como sempre, na despedida ele me olhou, me deixou sentir o que pensava e logo abaixou a cabeça.

Mas naquele dia, naquela hora, naquele instante, eu não consegui entender a forma como ele me encarava. Daquela vez existia algo por trás. Algo que eu não percebi a tempo. Era como uma despedida silenciosa.

Então eu saí.

Ás 14h eu cheguei em casa. E  de lá da entrada eu pude ouvir minha tia dizendo, em voz baixa: Ele morreu ás 14h em ponto.

 Como eu ouvi de longe, não percebi direito o que ela havia dito. Então eu entrei, passei por ele (sem olhá-lo) e fui almoçar.

Quando estava sentado diante da mesa, com o talher em mãos e pronto para almoçar, ouvi mais uma vez aquela frase atordoante: Ele morreu.

Meus olhos começaram a arder, minha mão devolveu o garfo, ao prato, minhas pernas me guiaram até ele e logo me vi abaixando, perante seu corpo.

Quando descobri seu corpo, agora sem vida, desabei no choro e por muito eu fiquei sentado com ele nas minhas pernas.

Eu não podia acreditar no que estava vendo. Meu companheiro de 1 ano e 16 dias havia me abandonado.  E nem foi capaz de esperar uns 5 minutos. Tempo suficiente para que eu pudesse então lhe pedir desculpas pela falha do dia anterior, em especial.

Chorei muito. Chorei o quanto pude e durante todo o resto do dia. Sentí o peso tomando conta da minha consciencia e me condenando por ter estado ausente no seu ultimo suspiro e por ter deixado como ultima lembrança, uma amostra de ignorância, rispidez e intolerância.

Ninguém nesse mundo faz idéia do quanto eu senti a morte dele. Ninguém é capaz de entender o que eu perdi.

Alguns poderiam dizer: Era apenas um cachorro.

Mas não. Não era apenas um cachorro. Era o MEU cachorro. O meu COMPANHEIRO, o meu INSTRUTOR. Era a minha lição de vida, VIVA.

Mas Deus sabe o que faz e tenho certeza  de que ele está em boas mãos, agora.

Talvez ele tenha ido para outro lar, alegrar a vida de alguém, assim como fez com a minha. E fez tão bem feito.

Depois de tudo o que eu viví com ele, posso dizer com todas as letras e convição do meu ato:

O que ele despertou em mim é aquilo que se chama AMOR.

domingo, 10 de maio de 2009

Eu Confesso...



Confesso que, se vc pretende se unir a outra pessoa, formando com ela uma quem sabe, nova familia, vc precisa ter em mente que chegará o momento no qual terá que abrir mão de muita coisa.


Coisas que por tanto tempo vc guardou consigo mesmo(a), seja pq representou momentos marcantes, seja pq lembra alguém querido ou simplesmente pq vc não havia encontrado razão alguma para se desfazer.

E quando este momento chegar, vc ainda precisará pesar tudo o que estiver envolvido, para saber se realmente vale a pena deixar de lado coisas suas, em prol de um tal de "nós".

Confesso que já falei inumeras vezes tudo e apenas o que quero.
Confesso que já repeti outras inumeras vezes, o que me importa e onde quero chegar.
Confesso que por idealizar demais, acabei por ver um sinal vermelho na minha frente, seguido de uma placa indicando que além de reduzir o meu ritmo, ainda teria que chegar para trás. Afinal, eu tinha cometido uma advertencia, ao sonhar um pouco alto.

Confesso que eh mais facil relacionar-se com animais (irracionais) do que com o ser humano.

Ow raça complicada.

Destruimos aquilo que eh nosso (olha que loucura), e ainda criticamos quem conserva o seu (só tem loucos).
Não nos importamos com o patrimônio, desde que não mexam no que eh meu. ¬¬

Êta mundinho danado de baum. ¬¬

Há quem diga que, quem não sonha, nunca chegou a viver, de fato.
Eu sonho. :)
Sonho até demais :(
Sonho com coisas que pra mim, possuem um valor á mais.
Sonho com coisas que fazem meus olhos brilharem.
Sonho com aquilo que funciona como motivação para ainda querer alguma porra por aqui.
Mas estou vendo que essa coisa de sonhar não é pra mim.
Pelo menos não enquanto eu passar das nuvens. Sim, eu queria ir mais alto. Enquanto eu puder respirar, quero subir.

Sou um pecador, nato.

Confesso...

terça-feira, 3 de março de 2009

Amei...



Amei intensamente. E o fiz sem temer o pior.

Entreguei-me ás escuras. Lancei-me no obscuro apostando minhas ultimas fixas sem o menor receio de não ter uma recompensa no final.

Acreditei no inacreditável e me surpreendí até mesmo com o habitual.

Me fiz perceber que eu não estava só. Dei-me conta de que eu poderia sim, ser feliz outra vez. E fui.

Não tive medo de chorar porque eu sabia que teria quem enxugasse minhas lágrimas. 

Corri sem me dar conta do terreno onde eu pisara, porque eu confiei na segurança prometida.

Fiz questão de me calar para assim ter a chance de me concentrar apenas numa voz em especial. Voz essa que me acalma ou me atormenta. Que me faz refletir ou simplesmente agir por impulso.

Desejei colocá-la no meu colo e fazer carinhos.

Falar ao “pé do ouvido” que nada lá fora faria sentido se ela não se fizesse presente.

Amei.

Amei com a certeza de que o meu sentimento estava sendo bem empregado.

Amei com a convicção de que a tal consciência em momento algum iria me condenar.

Amei, falsamente sentindo que eu não iria me arrepender de ter amado.

Mas aí a vida ficou de cabeça pra baixo. De pernas pro ar. Encontrei-me sem sentido e sem esperanças. Sem calças e fé.

Vi o meu amor ser negado com a intrigante afirmação de uma reciprocidade incompreensível.

Vi o amor ser trocado por um tal carinho (injustamente).

Entreguei-me de corpo, alma e mais um punhado de coisas fora do meu vago conhecimento.

Mal tive tempo de perceber o que havia me abatido e logo me dei conta de que precisava voltar a respirar. Coisa que eu nem fui capaz de notar no presente momento da tormenta.

Vi o mundo desmoronar diante da inutilidade dos meus olhos e me encontrei impotente perante tanta destruição.

Tantos sonhos e tantos projetos,  compartilhados por tanto tempo, e que de uma hora pra outra perderam seu valor, sua importância.

Tudo jogado fora.

Mas de repente, quando menos esperava, eis que um raio de sol entrou pela janela e lhe trouxe de volta com uma aparente expressão de arrependimento.

E eu, na minha humilde capacidade de reconhecer que todos nós somos fracos e podemos nos render até mesmo ao desconhecido, abri meus braços e lhe acolhi sob minhas asas.

Difícil entender as voltas que a vida dá.

E por isso aprendi a viver um dia de cada vez, e o fazer intensamente.