sábado, 20 de fevereiro de 2010

Quantas Vezes...



Quando pequeno, eu tinha um costume diário de sentar no muro e olhar o céu, enquanto as estrelas apareciam, uma a uma.
Era fascinante acompanhar o sol dando lugar á lua, enquanto os pontos luminosos se faziam notar por toda a extensão do tapete negro.

Ao encontrar novos pontos, eu sentia como se cada uma delas fosse uma resposta de Deus para cada um dos meus anseios. E tomando este pensamento, como lei, eu fazia um pedido por noite, acreditando que o brilho incessante daqueles pontinhos ao longe, eram uma resposta afirmativa para a minha crença.

Certa noite eu cheguei naquele velho amigo de confidências (muro) e percebi que tinha chegado na hora exata; pois a primeira estrela havia acabado de surgir. Então, por instantes eu fechei meus olhos e fiz o pedido do dia. Pedi a Deus para que um dia ele me colocasse no caminho de uma Mulher que sem esforço maior, conseguisse me dirigir a ele (Deus) e pedir proteção e bençãos pra ela, pois eu a queria como a minha futura esposa e mãe da minha tão sonhada filha.

O tempo passou, eu fui deixando de lado o meu velho hábito e muita coisa aconteceu.
Conheci tantas pessoas quantas vi partindo, também.
Me apaixonei. Pensei que havia me apaixonado e me dei conta de que não passava de tesão. Me iludí e deixei a desejar a quem muito queria e não podia, comigo. Assim como também chegou a acontencer de ficar muito tempo sem que eu me sentisse atraído por ninguém; o que mais tarde me causou um enorme sofrimento, por acreditar que eu havia perdido a capacidade de sentir prazer em ter alguém pra chamar de amor.

Quantas vezes deixei lágrimas cairem por não ter a quem abraçar com uma intenção maior...
Quantas vezes fui dormir me sentindo sozinho, pois tudo o que eu queria era ter com quem dormir abraçado...
Quantas vezes eu fechei os olhos idealizando um rosto qualquer, tentando me apegar a vagas lembranças que nunca existiram.

Quantas vezes eu me vi rodeado por casais que transmitiam no olhar, toda a sua felicidade por estar juntos, completos, entregues ao desejo ardente de serem um para o outro até que o fim dos tempo se fizesse valer, e sentia uma certa inveja; já que eu estava diante de tudo o que eu queria, mas que não me pertencia.

Por muito tempo eu fiquei só. Por muito tempo eu me senti só.

Todo inicio de ano era como um misto de esperança e angustia.
Por nunca ter conseguido passar o dia dos namorados, namorando, eu já sabia que naquele dia eu sentiria um vazio ainda maior e um aperto inexplicável, por não ter a quem presentear, nem que fosse com uma flor roubada do quintal do vizinho.
E por ironia (ou não) do destino, quando finalmente eu consegui entrar no "bendito" mes, namorando, eis que ela termina comigo. E o pior? Ela fez isso no dia anterior ao tão esperado "dia dos namorados".

Cara de sorte. :)

Mas aquele danado do tempo não deixava barato. Continuava passando e não tolerava atrasos.
Quando dei por mim, já estava no terceiro mês, sozinho, de novo.
E quantas vezes eu desejei ter de volta aquele brilho no olhar?
Quantas vezes eu passei a noite em claro, porque ela não saía do meu pensamento?
Quantas vezes eu sai correndo (literalmente falando) pela rua, na esperança de distrair o pensamento e leva-lo para outra direção que não fosse a daquele sorriso que me conquistou na hora mais acertada do mundo e me vi na obrigação de parar de correr porque eu estava pensando mais nela do que em mim, ali, correndo, suando, me desgastando em prol de um possivel 'alívio' que não me encontrou?

MUITAS!

Mas quem disse que o mundo estaria me esperando ali na esquina?
Quem disse que o tempo daria uma trégua e vendo o meu sofrimento, voltaria um pouco, para que eu pudesse sentir novamente, toda aquela alegria do inicio de tudo?

Lá estava eu, sentado na calçada, vendo capítulos da minha vida levando consigo cada um dos meus sonhos mais bobos.

Eu não tinha nome, não tinha endereço, não tinha idéia e muito menos a quem recorrer.
Era a constante presença da incerteza e eu, caminhando juntos numa estrada sem curvas e beiras.

Então eu me dei conta de quantas vezes eu havia pedido a Deus, uma resposta, uma orientação, e por não encontrá-la da maneira que 'eu esperava' que fosse, cheguei a abrir a boca e dizer que eu não tinha ninguém por mim. Dae, creio que alguém já estivesse cansado das minhas lamentações e finalmente me abriu os olhos. Pelo menos mudaram a minha forma de encarar o mundo, a vida.

Foi então que num belo dia, eu peguei um filme e fui assisti-lo. O filme era como qualquer outro, até que uma cena em especial, me chamou a atenção.
Nela, uma mulher se mostrava cansada de tanto fazer orações e não encontrar um alívio para sua alma. Então, Deus (na imagem de um Homem desconhecido) lhes apareceu e perguntou se ela estava com problemas. Ela, por sua vez, apesar de nunca tê-lo visto, começou a abrir o 'livro' da sua vida e a contar o que estava acontecendo e lhe deixando daquele jeito.
A Mulher chegou a dizer que Deus havia esquecido uma de suas filhas e teria abandonado ela com o seu sofrimento. Foi então que Deus (ainda na imagem de um desconhecido) lhes disse umas palavras que ficaram gravadas na minha mente e se tornaram mais um separador de águas, pra mim.
Ele (Deus) disse para ela, algo mais ou menos assim: "- Quando alguém rezar pedindo paciência, acha que Deus dará paciência, ou Deus dará a oportunidade de ser paciente?
Se pedimos coragem, Deus nos dará coragem ou oportunidades de sermos corajosos?
Se alguém pede que a família seja mais unida, Deus unirá a família com alegria e amor, ou dará a oportunidade de se amarem?".

Depois que vi esta cena, passei a acreditar que eu estava enganado, toda vez que me sentia só; pois apesar de não poder ver como eu esperava e ouvir como gostaria, Deus estava sempre por perto e olhando por e para mim.

Hoje eu ainda me julgo muito inexperiente quanto á vida, e sei que ainda tenho muita coisa para questionar. Mas também eu me dei conta de quantas vezes eu deixei passar a chance de me sentir feliz, por esperar no futuro, aquilo que estava diante dos meus olhos, há tempos.

Um comentário:

Pri disse...

Sócio, que coisa mais intensa o que escreveu.
Acho que todos nós nos sentimos assim em algum momento da vida; perdidos, sozinhos mas o bom é quando passamos a enchergar as coisas com os olhos mais abertos e passar a ser feliz não quando temos alguem mas sim sermos felizes em primeiro lugar com nós mesmos, com pequenas coisas, seja um sorriso, um abraço de amizade, um almoço em família, a dádiva de ver o sol nascer e se pôr...
E jamais estamos realmente sozinhos.

amo tu.