Peguei-me recordando toda uma historia, desde o seu inicio.
Pude minuciosamente reconstruir cada palavra, cada gesto, cada passo dado e cada uma das sensações promovidas durante esse tempo.
No começo eu não sabia onde iria terminar, e muito menos tinha idéia de que algo simplesmente tinha iniciado seu trajeto.
Mas só que me dei conta de que algo estava mudando. Certas peças não se encaixavam tão perfeitamente como sempre fizeram.
Dei-me conta de que meu pensamento já não era o mesmo. Percebi que minhas atitudes passaram a ser involuntárias e que uma inquietação havia tomado conta do meu ser.
Cheguei a lhe conhecer, como aconteceu com tantas outras. E lhe tratei de tal forma, como sempre deixei passar como sendo minha “marca registrada”.
Recebi tua indiferença e a maquiei como sendo um pedido de espera, de paciência.
Vi o tempo passar e me oferecer a cada dia uma nova oportunidade de estabelecer um contato como qualquer outro. Mas algo em você não se fazia comum, como nas outras.
Você tinha um brilho diferente no olhar. Tinha um aglomerado de palavras desconcertantes e por outro lado, convidativas.
Um misto de mistério e encanto exalavam do seu corpo, me incitando a desvendar os mistérios por trás daquela tão espessa armadura.
E aquele sorriso enigmático?
E a forma dengosa de falar?
E quando diz: "Ai ai, meu amor"?
E os apelidos loucos, que apenas pra nós fazem sentido?
E os risos das piadas mais sem sentido, que existem?
Confesso que nunca consegui chegar a 100% das suas reais investidas. E com isso, me sentia cada vez mais excitado a descobrir o que se passava na sua mente.
E quando eu já estava por desistir de tanto bater a cara na porta, eis que lhe encontro de guarda baixa, sem armaduras nem armas, e então vejo a oportunidade de sincera e ingenuamente lhe oferecer um ombro amigo.
Então pela primeira vez lhe vi pura, livre do sentimento de que tudo ao redor poderia oferecer perigo.
A partir de então, fomos estabelecendo contato (ainda tímido) e dia-após-dia nos deparamos com novas chances de nos tornar algo mais do que meros desconhecidos que se esbarraram numa das avenidas da vida por mero acaso.
O tempo me fez perceber que existia algo entre você e eu, que estava oculto aos olhos carnais. Mas que poderiam ser perceptíveis ao comandante dos sentimentos (coração).
Quando menos esperava, encontrei-me de certa forma, perdidamente apaixonado pela guerreira, sempre pronta para o ataque e disposta a qualquer sacrifício para defender seus ideais.
Mas nem tudo era um mar de rosas.
Brigamos, nos desentendemos, deixamos de lado a tal cumplicidade e demos vazão ao individualismo.
Confesso que já sorri, já chorei, já passei noites em claro de tanto que desejei que essa fase ruim tivesse logo um final Feliz.
Confesso também, que já tive pensamentos maliciosos quanto ao teu corpo. Também assumo que já sonhei com momentos de plena sintonia, e livres de quaisquer cobranças internas e externas.
E quando você brinca de não aparecer?
E quando some propositalmente, me deixando desesperado por tua aparição?
E quando me olha nos olhos e diz que me evita para me proteger? :(
Juntos, experimentamos as mais diversas sensações. Ás vezes nostálgicas, ás vezes de aperto no peito (angustia), ás vezes de solidão, e estranhamente, sempre estivemos ligados como se entre nós estivesse um cordão imaginário.
Como entender minhas reações, diante de tantos "prós e contras"?
Como justificar a saudade, mesmo depois de uma rivalidade infundada?
Como explicar a inquietação exacerbada, pela subida de uma simples plaquinha indicando sua chegada?
Como definir um cheiro que fica no ar, e de imediato me faz "ver" tua face a me dedicar um inocente sorriso?
Fato é que, hoje, depois de muitas provações, resolvi assumir que me tornei dependente de certo carinho, de certa companhia, de certa metade perdida em algum lugar, mundo afora.
Projetos foram criados, intenções direcionadas e, creio eu, nada foi em vão.
Posso não ser a pessoa certa para estar ao lado e receber, dos olhos alheios, o status de merecedor de tal companhia. Afinal, o que é "nosso", diz respeito apenas a nós.
Mas sempre fui aquele a desejar o bem, e aquele que em oração pede proteção e bençãos pra ti.
E também, continuarei a ser o simples menino crescido, que encontrou numa "Mulher-de-fases", a tal inspiração para continuar sorrindo, mesmo com as pedras no caminho.